ANÁLISE INTERTEXTUAL DE TRECHOS DOS VIDEOS O GRANDE DITADOR, DE CHARLES CHAPLIN, ABERTURA DA NOVELA O DONO DO MUNDO, O DONO DO MUNDO ESQUETE DE HUMOR DE OS TRAPALHÕES: A PARTIR DAS TÉCNICAS DE INTERTEXTUALIDADE APRESENTADAS POR CHARLES BAZERMAN
Luiz Eduardo Lima Ribeiro[1]
1-Intertextualidade:
estratégias metodológicas
A produção desse material
tem como objetivo, a partir das técnicas de intertextualidades desenvolvidas
por Bazerman (2021), analisar de que forma essas técnicas de intertextualidade
se fazem presentes em vídeos. Para esta analise temos como corpus os vídeos: O Grande
Ditador, de Charles Chaplin; abertura da novela o Dono do Mundo, de Gilberto
Braga; O Dono do Mundo-esquete de humor de os trapalhões.
Essa produção está
dividida em dois momentos: concepções teóricas e técnicas de intertextualidades,
de Charles Bazerman (2021) e em segundo momento, as análises dos vídeos.
Partindo do conceito de Bazerman
que aponta a intertextualidade com a percepção de que “nós criamos os nossos
textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do
oceano de linguagem em que vivemos” (BAZERMAN,2021, p.136) logo, compreende-se
que um texto pode constituir-se a partir de uma relação intrínseca com outros
textos.
É a partir dessa definição
que Bazerman apresenta os modos de manifestação da intertextualidade que pode
ocorrer de forma implícita e explicita, em nosso cotidiano, por meio de textos
que se apoiam em outros textos e que são replicados intertextualmente para
produzir novos sentidos. Diante disso, podemos dizer que o produto final de um
texto de acordo com suas marcas linguísticas, é construído através de reprodução
de textos já existentes, e que ecoaram discursivamente por muito tempo em
nossas vidas e posteriormente.
Por conseguinte, surge a
importância de compreender as estratégias que permeiam um determinado texto através
de critérios de análise no âmbito intertextual, Bazerman (2021) esclarece que
fazer esse tipo de análise “vai ajudar você a distinguir as diversas maneiras
como os escritores inserem outros personagens em sua história e como eles
posicionam a si mesmos dentro desses mundos de múltiplos textos”, assim ao
observamos uma produção textual devemos buscar identificar por meio dos aspectos
levantados, como os sentidos são materializados,
até que ponto determinado texto carrega características pertinentes a uma outra
produção distinta, produzindo assim, uma relação entre textos.
Bazerman (2021) propôs as
seguintes técnicas de representação de análise intertextual com as quais
representam as palavras e os enunciados de outros textos, ou seja, por meio das
expressões linguísticas pode-se identificar quando e como ocorre a
intertextualidade. Começando pela técnica mais explícita, temos a seguinte
enumeração proposta pelo autor:
3.
Menção a uma pessoa, a um documento ou a declarações -
A menção a documentos ou a autores depende da familiaridade do leitor com a
fonte original e com o que ela diz;
4.
Comentário ou avaliação acerca de uma declaração, de um texto ou de outra voz
evocada- Geralmente vindos de veículos com renome, obras
consideradas canônicas e referências premiadas;
5.
Uso de estilos reconhecíveis, de terminologia associada a determinadas pessoas
ou grupo de pessoas, ou de documentos específicos-
Uso de termos ou frases famosas ditas por pessoas históricas;
6.
Uso de linguagem e de formas linguísticas que parecem ecoar certos modos de
comunicação, discussões entre outras pessoas e tipos de documento-Os
gêneros, os tipos de vocabulário (ou registro), as frases feitas e os padrões
de expressão podem ser enquadrados nessa técnica.
Esses
critérios destacados por Bazerman (2021) são técnicas que nortearam as análises
intertextuais em nosso corpus investigativo. Assim, ressaltamos que os corpus
apresentados tratam-se de textos audiovisuais e iremos descrever a ocorrência
de citações diretas ou indiretas através da análise de tais textos. Observemos na próxima seção a construção
intertextual nas três materialidades discursivas:
2-
Análises audiovisual
Seguindo as técnicas de
análise propostas por Bazerman (2021) nesta seção iremos abordar tais aspectos
sob a investigação criteriosa entre três textos audiovisuais: O
grande ditador, de Charles Chaplin, abertura da novela o Dono do Mundo, O Dono
do Mundo-Esquete de Humor de Os Trapalhões.
O vídeo fonte é um trecho
do filme “O grande ditador” de 1940,
escrito, dirigido e atuado como protagonista Charlie Chaplin, filme esse em
que, de forma genial, representa tantos ditadores que tentaram dominar o mundo.
Charles Chaplin não foi apenas um grande ator, roteirista diretor e cineasta,
mas um gênio da sétima arte e nesse filme crítico aos governos de Hitler
(Nazismo) e Mussolini (Facismo) ele faz uma das cenas mais memoráveis do cinema
na qual seu personagem ditador “brinca” com o globo terrestre como se o mundo
fosse seu “brinquedinho”. Assim, primeiro eles têm uma ideia romantizada sobre o
autoritarismo diabólico e quando enxergam que isto não funciona, choram feito
crianças.
No entanto, é preciso identificar
que o fenômeno da intertextualidade é de suma importância para analise textual
dos textos posteriormente replicados, como em: Abertura da Novela O Dono do Mundo,
O Dono do Mundo-Esquete de Humor de Os Trapalhões, permitindo uma
compreensão englobante na medida em que utilizamos os conceitos elaborados por
Bazerman (2021) de modo a direcionar o leitor em um processo de intepretação textual
através da análise do texto fonte.
Partindo da contribuição teórica do autor, que foi explorado a respeito das técnicas, agora iremos analisar nos vídeos os seguintes elementos semióticos: gestos, postura, ilustrações, cores, luzes, objetos, personagens e símbolos, de modo a observar as técnicas de intertextualidade apresentada por Bazerman (2021), em seguida, elaboramos um quadro síntese a fim de facilitar a visualização intersemiótica entres os três textos, e ao longo das análises iremos descrever os seguintes aspectos em destaque:
Na primeira imagem, retirada do video original “O grande ditador” de Charles Chaplin, podemos observar que a representação de Hitler segurando o globo, faz uma alusão ao desejo de dominação mundial por parte do ditador e, consequentemente, a um contexto histórico vivenciado pelos alemãos no período. Com base no exposto, vale dizer que, um texto é produzido, conforme aponta Bazerman (2021), com base em outros já realizados e que, para isso, são utilizadas algumas técnicas que, inclusive, são citados por Bazerman (2021) em seu trabalho intitulado “Gênero, agência e escrita” (2021).
Observando
a abertura do filme “O Grande Ditador”;
bem como da novela “O Dono do Mundo” e
“O Dono do Mundo-Esquete de Humor de Os
Trapalhões”, podemos identificar algumas técnicas elaboradas por Bazerman
(2021). Nos vídeos supracitados, de
início, observamos uma citação direta. Essa técnica é vista na segunda imagem, na
abertura da novela “O Dono do Mundo”
da Rede Globo, na qual a mesma personagem representada aparece no vídeo “O
grande ditador” de Charles Chaplin. No entanto, o personagem que aparece no
vídeo “O
Dono do Mundo-Esquete de Humor de Os Trapalhões,
é o personagem Didi.
Outra citação direta que podemos observar é na postura. Em
ambos os vídeos, tanto em “o grande didator” como na abertura da novela, os
personagens fazem os mesmos gestos ao segurar o globo. Apesar disso, o globo da
abertura da novela apresenta imagens de mulheres
que mostram, pelo que se pode perceber, que a personagem deseja dominar o mundo de
mulheres para usar por simples prazer, ao
invés do mundo propriamente dito, como se ver na imagem do filme “ o
grande ditador”. No que tange a postura, o mesmo não se observar no video de os
trapalhões, posto que o personagem Didi rouba o lugar do personagem real ao
entrar na gravação. Há, portanto, um embate, entre ambos, de lugares e pelo
poder de dominar.
Contudo, podemos ver uma citação direta no esquetes do programa
humoristico “Os trapalhões”. Essa técnica é vista na remissão que o programa
faz à abertura da novela. O personagem Didi entra por curiosidade nas gravações
da abertura da novela e, com requintes humoristicos, a personagem, que é
mulherengo e ambicioso, corre atrás do globo e, finamente, o fura intecionalmente
para que, assim, possa dominar a mulher que deseja.
A técnica da citação direta entre os vídeos na abertura da novela e os trapalhões é perceptível também na cor para dá destaque a figura da mulher e, portanto, mostrar as reais intenções dos personagens nos dois vídeos. Desse modo, percebemos que a intertextualidade na produção dos vídeos também corroboram para manifestação de efeitos de sentidos no texto.
Diante disso, na figura 2 iremos descrever o símbolo e a luz presente nas três imagens:
À luz das técnicas de representação intertextual de Bazerman (2004)
podemos identificar nos trechos dos vídeos base, vídeo 1 (abertura da novela –
O dono do Mundo) e vídeo 2 (Os Trapalhões) a segunda técnica de representação
intertextual, a de citação direta ,onde a partir da referência imagética na
cena de fundo histórico que resume a menção explícita utilizada do símbolo da
dupla cruz que faz referência clara a atitudes nazistas e que são usados nos
outros dois contextos com a mesma representação visual, porém com maior
destaque na abertura da novela, na qual
de forma humorística é representada na cena dos Trapalhões.
Apoiado em Bazerman
(2021) o significado é construído no momento em que o leitor tem trocas com o
texto, o próprio texto não contém nenhum significado se não houver
intercambio/conexão (Rosenblatt,2004).
Ademais, mediante ao que
está exposto na figura dois, temos a representação do símbolo da suástica com o
formato de uma cruz representativo de muitas culturas e religiões em tempos diferentes.
Porém, atualmente esse símbolo é retomado em outro contexto histórico e passa a
ser reconhecido mundialmente por representar a ideologia nazista. Dessa forma, partindo
do texto fonte “o grande ditador” esse símbolo é marcado ideologicamente
pela cultura nazista que tem o Adolf Hitler como o grande líder dessa doutrina.
Contudo, de modo a
repetir-se na cena de abertura da novela “o dono do mundo”, nesta
ocasião, o símbolo nazista passa a denotar novos sentidos, pois, enquanto Adolf
Hitler é um líder que utiliza do seu lugar social político para persuadir o
povo a acreditar nas atrocidades que ele defende, por outro lado, no âmbito da
novela, este símbolo possibilita a ideia de poder da figura masculina em detrimento das mulheres, visto que, o
enredo da novela é constituído pelas ações machistas do protagonista Felipe
Barreto, contra a protagonista Márcia, pois, Felipe a seduz até conseguir tirar
a sua virgindade para satisfazer-se momentaneamente, além disso, Felipe faz
isso com todas as mulheres com as quais se envolve na trama.
Portanto, de acordo com
as técnicas de análise propostas por Bazerman (2021) os símbolos representam a
força ideológica masculina por meio de uma citação direta, esse tipo de citação “ é normalmente identificada
por aspas, pelo adentramento do parágrafo, por caracteres em itálico ou por
outro recurso tipográfico destacado das demais palavras do texto” (BAZERMAN,2021)
no caso da imagem em questão, a referência original do texto é representada
pelo símbolo nazista, bem como, pela luz presente nas três imagens,
configurando desse modo, o fenômeno da intertextualidade por meio dos recursos
semióticos em comum. Para além disso, vale ressaltar que na imagem em que
aparece a cena de um “Esquete de humor em os Trapalhões”, por tratar-se
de um gênero humorístico, mobiliza uma crítica ao posicionamento ideológico de
ambas as personagens anteriores, Adolf Hitler e o Dono do Mundo de forma sarcástica.
Para concluir
Dessa maneira, a análise
realizada considera muito importante as técnicas elaboradas por Bazerman (2021)
pelo viés da intertextualidade, visto que, um texto pode apresentar correlações
contextuais com outros textos que foram produzidos ao longo da história
tratando, assim, de temáticas atuais que podem negar ou reafirmar um discurso
já existente.
No entanto, no campo
humorístico, os sentidos produzidos reverberam uma crítica social, pois, o humor
nos faz refletir criticamente acerca de temáticas complexas e polêmicas do
cotidiano de modo a “suavizar” problemáticas sociais, como, por exemplo, os
discursos nazistas, fascistas e machistas, como pudemos observar ao longo das produções
audiovisuais retratadas neste trabalho.
REFERÊNCIAS:
Bazerman,
Charles. Intertextualidade: como os
textos se apoiam em outros textos In. Gênero, agência e escrita / Charles
Bazerman; Angela Paiva Dionisio (Organizadora), Judith Chambliss Hoffnagel
(Organizadora e Tradutora) – 2. ed. – Recife: Pipa Comunicação, Campina Grande:
EDUFCG, 2021.
[1] Graduado em Letras/Literatura,
pós-graduado em LIBRAS e Mestrando em Letras-PPPGEL-UESPI.
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